Para crianças
Deficientes visuais desfrutam de espetáculo de teatro por meio de serviço de um grupo de pesquisa da Uece
Yuri Leonardo
Especial para O POVO
29 Mai 2010 – 01h11min
O público bateu palmas e acompanhou trechos das canções entoadas pelos atores do espetáculo infantil A Vaca Lelé, do Grupo Bandeira das Artes, encenado na manhã de ontem no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Com fones de ouvido, as crianças, a maioria deficiente visual, puderam acompanhar a peça. Assim, souberam que a vaca Matilde, protagonista, vestia roupa branca com detalhes pretos.
“Ela possui rabo e usa uma coroa“, narrava Klístenes Braga, membro do Lead – grupo de pesquisa em Tradução Audiovisual da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Dentro de uma cabine à parte do cineteatro, ele descrevia as ações no palco. Estas eram escutadas pelos deficientes visuais durante os silêncios da atuação. “Procuramos fazer com que a criança assista da mesma forma como nos outros espetáculos“, esclarece Bruna Alves Leão, 22, pesquisadora do Lead e protagonista do espetáculo. Ela explica que no processo de tradução audiovisual, o narrador deve ter precisão das pausas no roteiro para não prejudicar a interpretação da obra, tanto que o intérprete deve estar envolvido com o espetáculo .
Assim como na peleja da vaquinha Matilde em fugir do curral onde mora, ganhar asas e voar, a tradução audiovisual dá “asas para os espectadores voarem, estarem perto do cinema ou próximos aos museus“, conforme Bruna. Pedro Yan Oliveira assistiu ao espetáculo duas vezes. “Ela (a protagonista) explica para todo mundo que não se precisa voar só com asas, mas também com o coração“, diz Pedro, 10 anos.
Tão satisfeito quanto Pedro estava Antônio Edilson de Oliveira, de 48 anos, definindo a peça como “divertida“. “Conseguiu arrancar sorrisos da plateia, inclusive de mim, que sou meio duro pra rir“, disse. Membro do Instituto dos Cegos no Antônio Bezerra, Edilson disse que a intromissão do narrador veio em momentos certos.
E-MAIS
> Coordenado pela professora Vera Lúcia Santiago, o Lead – Grupo de Pesquisa em Tradução Audiovisual da Uece – surgiu como uma maneira de aplicar os estudos sobre acessibilidade audiovisual à realidade local.
> Vera Lúcia explica que além de pesquisadores na área, o grupo deseja formar profissionais qualificados na linguagem do roteiro e da locução, e nas linguagens específicas de cada gênero, teatro ou cinema.
> “A maior parte das pessoas pensam em cadeirantes quando se fala em acessibilidade, mas há também a acessibilidade sensorial”, ressalta.
> Considerando a formação de plateias e a inclusão cultural, a coordenadoria do CCBNB anunciou a possibilidade de inclusão do serviço na programação do centro cultural.
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