Inclusão teatral


Marcando o pioneirismo na inclusão social de deficientes, a peça A Vaca Lelé estreia hoje no Centro Cultural Banco do Nordeste para um novo público: crianças cegas
Na peça, de Ronaldo Ciambroni e direção de Ana Cristina Viana, a vaquinha Matilde, cheia de sonhos, foge atrás de seu grande objetivo: voar (Divulgação)
28 Mai 2010 – 00h54min
Hoje é o dia que marca uma nova opção cultural para 100 jovens estudantes entre 6 e 12 anos. Hoje, eles poderão ir ao teatro e ver uma peça adaptada justamente para eles. Hoje, eles vão saberão o que acontece em todos os momentos do espetáculo, desde onde os atores estão até qual a sensação passada por eles. Hoje, apesar de não poderem ver, esses 100 jovens alunos do Instituto dr. Hélio Góes & pertencente à Sociedade de Assistência aos Cegos &, e da Escola de Ensino Fundamental Instituto de Cegos vão poder acompanhar o primeiro espetáculo produzido especialmente para eles.
Utilizando um método conhecido como TAV (Tradução audiovisual), a audiodescrição de um espetáculo infantil chega pela primeira vez ao Estado. A peça em questão é o premiado A Vaca Lelé. “Nós juntamos a ideia de expandir o espetáculo para novos públicos com a vontade de criar um projeto de acessibilidade para crianças“, disse Bruna Leão, que, além de ser uma das responsáveis pela tradução audiovisual do texto, encarna Matilde, a própria Vaca Lelé.
Quem coordena a adaptação da peça para o público cego é o grupo de pesquisa em Tradução Audiovisual da Universidade Estadual do Ceará (Uece) ou, simplesmente, LEAD (Legendagem e Audiodescrição). Formado por alunos da graduação em Letras e mestrandos em Linguística Aplicada da Uece, o grupo já traduziu cinco peças pelo processo de audiodescrição desde 2008. O primeiro foi Astigmatismo, seguido de Magnopirol: Um Corpo na loucura, Curral Grande, Tudo que eu queria te dizer e, agora, A Vaca Lelé. “A narração é a última parte do processo“, explica Klístenes Braga, que adaptou o texto e atua como narrador. “A gente parte do visual para o verbal: um processo de tradução“.
Na peça, a vaquinha Matilde, cheia de sonhos, foge atrás de seu grande objetivo: voar. Na tradução, além da Vaca, da Cigarra, da Galinha e de outros animais, o narrador é um fator determinante. “É importante que o narrador trabalhe com inflexões da voz de acordo com o desenrolar da peça & ele deve ser interpretativo. Puxar para o cômico, para o dramático, etc.“, disse o narrador, definindo-se como um agente transmissor de sensações. Com mais de cinco anos nos palcos, A Vaca Lelé é um projeto de José Alves Netto apresentado pelo Grupo Bandeira das Artes, com texto de Ronaldo Ciambroni e direção de Ana Cristina Viana.
Além da apresentação de A Vaca Lelé, a coordenadora de Programação Infantil e Artes Cênicas do Centro Cultural BNB, Viviane Queiroz, destaca o projeto de ampliação das sessões audiodescritas além do programa Ouvir Dizer. O projeto traz leituras periódicas de literatura brasileira e universal, focando, em especial, o público cego, além de buscar a ampliação da audioteca do CCBNB. Afinal, “o que não pode ser visto tem que ser narrado“. E por alguém capacitado, destaca Viviane. (André Bloc)
EMAIS
– Para conhecer melhor o trabalho do LEAD visite o blog do grupo:leaduece.blogspot.com.
– O LEAD atua desde abril de 2008 promovendo acessibilidade audiovisual de deficientes visuais e surdos ao cinema, teatro e museus, por meio da audiodescrição, da janela de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e da legendagem.
SERVIÇO
A VACA LELÉ & sessão especial com serviço de tradução audiovisual (TAV) para 100 crianças deficientes audiovisuais. Hoje, às 10h30, no cineteatro do Centro Cultural Banco do Nordeste & Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 & Centro). Outras Informações: (85) 3464 3108.
AUDIODESCRIÇÃO
– O primeiro passo é a captação de todo o espetáculo em vídeo.
– O grupo responsável pelo roteiro audiovisual traduzido, então, descreve os elementos presentes no vídeo & figurino, movimento de cena, iluminação, etc.
– Antes da apresentação, o narrador apresenta uma sinopse adaptada da peça para o público.
– Os espectadores, então, recebem fones de ouvido usados para a tradução audiovisual.
– A tradução é ouvida em apenas um ouvido, enquanto o outro fica livre para os diálogos, músicas e sons da própria peça.
– A narração traduzida e especializada se dá nos momentos de silêncio da apresentação de forma a não prejudicar o desenrolar da trama.

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