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Audiodescrição em pauta na mídia cearense (1)


No mês de março, o jornal Diário do Nordeste fez uma série de matérias sobre a audiodescrição como recurso de inclusão das pessoas com deficiência visual no Ceará, a partir das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Tradução Audiovisual (LATAV) do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Santiago.
UNIVERSO CULTURAL

Audiodescrição inclui portadores de necessidades especiais

31.03.2013
Recurso que atualmente é desenvolvido por pesquisadores da Uece pode transformar a vida de muita gente
A audiodescrição pode ajudar não apenas na tradução de imagens mediante o uso das palavras, mas também ampliar o universo cultural, além de promover a inclusão dos portadores de necessidades especiais visuais na sociedade em geral. Para que isso se torne realidade, é preciso que haja maior compreensão dos produtores culturais locais em tornar as manifestações artístico-culturais acessíveis a esse grupo de pessoas, usando, além do recurso da audiodescrição, legendagem e interpretação em Dicionário da Língua de Sinais (Libras). Um dos pioneiros em trazer o assunto para a ordem do dia na Capital, foi o Laboratório de Tradução Audiovisual (Latav), ligado ao Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (Uece), atuando de forma mais direta no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada.

O laboratório de audiodescrição da Uece tem contribuído para a ampliação dos direitos do cidadão

A professora adjunta da Uece e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Vera Lúcia Santiago Araújo, que tem experiência na área de Linguística Aplicada, com ênfase em tradução, principalmente audiovisual, legendagem, audiodescrição e tradução audiovisual e ensino faz do tema a sua bandeira de luta.

À frente do Latav, coordenando pesquisas e orientando alunos de mestrado e doutorado que pesquisam sobre o assunto, ela conta que a ideia surgiu depois do seu doutoramento, em 2000. “Trabalhei com filmes dublados e legendados”, diz, completando que ao retornar ao trabalho, resolve pesquisar no Instituto Cearense de Educação dos Surdos (Ices) para avaliar a recepção de surdos às legendas oferecidas pelos canais de TV brasileiros a partir de 1997. “Daí para começar a trabalhar com audiodescrição foi um pulo”, lembra, afirmando que sempre estão realizando projetos de pesquisa e extensão, e executando várias ações para que o público alvo conheça as técnicas da audiodescrição e os produtores culturais entendam que é possível promover a acessibilidade aos meios audiovisuais por um baixo custo.

Pioneirismo
Uma das pioneiras a se debruçar sobre o tema e tornar objeto de estudo de suas pesquisas, Vera Lúcia Santiago, explica que a audiodescrição é uma modalidade de tradução audiovisual que consiste em descrever por meio de palavras os elementos visuais de uma produção audiovisual, de uma obra de arte e de eventos esportivos. Assim, eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem ser assistidos por pessoas com deficiência auditiva por meio da audiodescrição que, no Brasil, já pode ser acessada na TV, cujas emissoras devem oferecer pelo menos duas horas semanais.

Também em alguns filmes em DVD que trazem tradução de audiodescrição, óperas, espetáculos de dança também estão sendo audiodescritos. “A maioria das ações, até agora, estão sendo de voluntários”, revela, embora reconheça a existência de “vários profissionais que precisam sobreviver e estão fazendo outros trabalhos, porque os produtores culturais não querem pagar pelos seus serviços”.

No Ceará, como no resto do País, as ações ainda são isoladas, acrescentando que a Uece formou vários audiodescritores com formação superior, a maioria com mestrado. “Agora, falta o mercado cearense se abrir para nós e para o nosso público especial”.

A professora Vera Lúcia Santiago revela que a maioria das ações colocadas em prática hoje na área são fruto de trabalhos voluntários: “produtores culturais não querem pagar”
Acesso

Para a pesquisadora, a audiodescrição pode ser fundamental na inclusão dessas pessoas. “Elas são excluídas, porque as pessoas acham que um cego nunca vai poder ir a um cinema, a um teatro, a uma exposição a um jogo de futebol, a uma competição de natação”. Entretanto, ressalta que todas as ações e as pesquisas realizadas pela Uece, através do Latav, demonstram que é possível dar a acesso a esse público por meio da audiodescrição.

A professora fala com entusiasmo sobre o trabalho: “Então, todos vão poder experimentar a nossa emoção ao ver 60 crianças batendo palmas e se emocionando com a peça ´A vaca Lelé´ e depois querendo tocar e pegar nos bichinhos, os quais eles já sabiam a descrição, porque tinham ouvido a audiodescrição”.

Com relação à preocupação do governo com a questão, a pesquisadora confirma que existe, mas ressalva que se limita apenas à TV. Na sua opinião, as ações do governo poderiam se estender para outros campos das artes. “O governo é o maior financiador do cinema e do teatro nacionais”, diz, questionando que poderia atrelar o financiamento à condição de que os produtos fossem acessíveis a pessoas com deficiências visuais e auditivas. Recebe com satisfação iniciativas que, aos poucos, estão sendo realizadas em Fortaleza, contemplando as pessoas portadoras de necessidades especiais visuais e auditivas, atribuindo “com certeza, ao trabalho da Uece”, completando que isto quer dizer que já estamos colhendo frutos, esperando que daqui por diante elas sejam muitas.

Quanto aos custos para que os equipamentos culturais da Cidade ofereçam opções aos portadores de necessidades especiais, a pesquisadora diz que não sai caro.

Conforme a professora, os cinemas e teatros podem dispor de audiodescrição ao vivo ou gravada com a mesma aparelhagem usada na interpretação simultânea. Nas bibliotecas, o uso de computadores com programas como DOS-VOX e Jaws, além da audiodescrição de gravuras e fotografias.

“Até um arquivo no formato MP3 pode dar acesso a toda uma exposição com audiodescrição e, claro, piso tátil para o cego poder ir sozinho a uma exposição”, diz referindo-se aos museus. Para a sala de aula, diz que a audiodescrição pode ser um importante recurso pedagógico para a educação de pessoas com deficiência visual.

A professora fala da importância das parecerias para a realização de projetos, citando o CNPq, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Banco do Nordeste (BNB), Serviço Social do Comércio (Sesc) Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (Funcap) Teatro José de Alencar, Centro Urbano de Cultura, Artes, Ciência e Esporte (Cuca) e instituições que atendem a deficientes visuais e auditivos.

Como resultado de todas essas parcerias, existe produção de DVDs acessíveis, várias mostras de cinema, como no Cine Ceará 2009, várias peças de teatro, espetáculos de dança e exposições de arte. (IS) 

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