Atividade desenvolvida no
Theatro José de Alencar
beneficia deficientes visuais
Ter acesso sem restrição a qualquer lugar é um dos significados que podemos atribuir ao termo acessibilidade. Visando a inclusão de pessoas com deficiência, em especial os deficientes visuais, está sendo desenvolvido, desde 2008, no Theatro José de Alencar (TJA), o projeto de tradução e acessibilidade às manifestações culturais através de visitas guiadas para esse público específico. A iniciativa, a primeira desta natureza no Brasil, é do Grupo Legendagem e Audiodescrição (LEAD) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em parceria com o TJA.
Segundo o mestrando em Linguística Aplicada e pesquisador do LEAD, Klístenes Braga, o principal motivo da ação é aproximar os deficientes das atividades culturais de lazer, de entretenimento e de educação proporcionadas pelo Theatro José de Alencar, considerando sua história, arquitetura e contribuição para a cultura do Ceará. “Trata-se de uma parcela significativa da nossa população que está distante das manifestações culturais e artísticas em virtude da barreira da deficiência”, comenta Klístenes Braga.
Inclusão cultural
O pesquisador informa que foi em dezembro de 2008 que aconteceu a primeira sessão de teatro acessível com a audiodescrição (AD) do espetáculo “Astigmatismo”, beneficiando 30 deficientes visuais e abrindo caminho para a acessibilidade de deficientes aos teatros do Ceará.
Klístenes explica que a técnica de audiodescrição é uma narração adicional que descreve a ação, a linguagem corporal, as expressões faciais, os cenários e os figurinos. A tradução é colocada entre os diálogos e não interfere nos efeitos musicais e sonoros do espetáculo.
Por meio de atividades como essa, os deficientes têm como uma importante conquista a sua inclusão no contexto-sócio cultural do nosso Estado, através do seu acesso ao universo lúdico do teatro. Um dos benefícios apontados pelo pesquisador durante as visitas acessíveis é a oportunidade dos deficientes experimentarem as pinturas, cores e formas encontradas no pátio, no foyer, na sala de espetáculo (palco principal), no jardim e no porão do teatro, juntamente com os outros visitantes.
Atividades acessíveis
A diretora do TJA Izabel Gurgel ressalta a importância do papel das instituições públicas na criação de práticas culturais e na disponibilidade de condições de acesso que começam antes de se chegar ao local propriamente dito, com calçadas livres e em boas condições, por exemplo. “É necessário pensar o público da forma mais larga possível. É necessário formar público, criar platéia. Precisamos fazer mais para ampliar nossa experiência de mundo. Lembro do escritor argentino Jorge Luis Borges, que ficou cegou, dizendo que “a cegueira é um outro modo de ver”.
De acordo com Izabel Gurgel, o Governo do Estado tem um projeto cuja prioridade é dar acesso a portadores de deficiência e pessoas com mobilidade reduzida aos ambientes culturais.
A diretora lembra que além do Theatro José de Alencar, outros espaços também possibilitam a inclusão de deficientes às manifestações artístico – culturais, como o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN) e o Dragão do Mar que realizam programação impressa em braile; e ainda a Biblioteca Pública Estadual que possui um setor braile.
De acordo com Klístenes Braga, o grupo Lead está organizando outros projetos de inclusão para os deficientes, como uma amostra gratuita de filmes nacionais acessíveis, no Centro Cultural Banco do Nordeste, com Legendagem Fechada para Surdos (LFS) e AD para deficientes visuais ainda este ano, dentre os longa-metragens que serão exibidos estão alguns que foram premiados na 19ª Edição do Cine Ceará. “Estamos também organizando uma visita guiada à uma exposição de arte no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em breve. E outra ação em que já estamos trabalhando é a tradução audiovisual de espetáculos de teatro infantil, a fim de atender também crianças surdas e deficientes visuais. Tentaremos realizar pelo menos um espetáculo desse tipo ainda este ano”.
O pesquisador afirma ainda que por se tratar de uma mudança da cultura, até o momento, o público para esses tipos de evento ainda é bastante reduzido, participando das visitas guiadas no TJA em torno de cinco deficientes visuais por mês. Esse número escasso, conforme Klístenes, se deve por conta do desconhecimento dos deficientes das atividades oferecidas pelo teatro.
As visitas guiadas no Teatro José de Alencar acontecem todo dia 17 de cada mês, sempre às 16h. A entrada é gratuita.
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